Coluna Inovação | No mundo digital não existe vocação regional

Qual é a vocação tecnológica do Espírito Santo? Devemos escolher um tema para ser desenvolvido? Vale a ideia de focar em um tema e ser bom nele? Qual tema? Os temas que estão na moda, como inteligência artificial, deveriam ser deixados de lado, para nos concentrarmos nos temas que serão relevantes em 2035 para chegarmos na frente?

São típicas discussões para pautar o projeto ES500 anos de planejamento do Estado para 1935, quando se completam 500 anos da colonização.

Para entender o que seriam as vocações tecnológicas podemos estudar  a origem das startups que tiveram êxito por aqui e de onde vêm as que estão surgindo. Provavelmente as três mais emblemáticas são Picpay, Zaitt e Wine. Uma fintech, uma retailtech e uma logtech(ou retailtech), com origens diferentes a partir de visões pessoais de empreendedores.

As muitas startups que apareceram depois dos pioneiros têm origens as mais diversas a partir de iniciativas provocadas por vários fatores como:

  1. empreendedores com experiências ou conhecimentos pessoais
  2. empreendedores com conhecimento de tecnologias específicas
  3. demandas ou problemas das grandes empresas ou órgãos públicos
  4. editais com recursos oferecidos
  5. infraestrutura instalada
  6. vocações do estado: logística, portos, siderurgia, mineração, celulose, rochas, café, mamão, etc.
  7. grupos acadêmicos de excelência: inteligência artificial, petróleo, tecnologia assistiva e outros
  8. tendências sociais: envelhecimento, sustentabilidade, personalização, democratização, ESG, redes sociais.

Antigamente as informações eram escassas e para saber o que se passava no mundo precisávamos de enciclopédias imensas e caras, bibliotecas físicas de difícil acesso geral, noticiários à noite resumidos, jornais onde notícias de todo tipo se misturavam. Músicas, filmes e livros técnicos demoravam a ser lançados no Brasil. Numa situação assim, as ideias inovadoras tinham de se limitar às informações que circulavam por perto.

Hoje a informação está democratizada, se não socialmente, pelo menos espacialmente. De qualquer lugar podemos comprar e receber qualquer produto rapidamente, quando não imediatamente no lançamento como um livro no Kindle, o noticiário à noite já está velho, as redes sociais fazem informações circularem em velocidade alucinante, para o bem ou para o mal. Se o Google tinha como missão organizar as informações do mundo, agora o ChatGPT sintetiza. Pessoas são contratadas para atuar em home office em qualquer lugar,  os currículos estão todos no Linkedin, pesquisadores cooperam de um continente para outro, falamos de graça com o mundo pelo WhatsApp e pode-se estudar quase qualquer coisa por EAD de qualquer lugar. Até um tipo de informação antes restrita, como o que se passava nas entranhas das grandes empresas, está escancarada pela inovação aberta em forma de desafios.

Não existe mais vocação regional apenas como motivador e se existe está atrasada. Quem quer se lançar no mercado tem que mirar o país todo e o mundo. Resolver problemas gerais e ser rápido. Uma conexão regional inicial pode ser boa apenas para ajustar as velas antes de partir para o mundo.

Pensar em vocações regionais, no máximo seria apostar investimentos públicos em grupos acadêmicos de excelência, conectados com o futuro, que formem bastante gente e façam surgir empreendedores que levem as pesquisas para o mercado e oferecer recursos em editais que incentivem o empreendedorismo inovador. Para startups do mundo digital, ficar restritas a possíveis vocações locais é atraso de vida.